O imponente Monte Aconcágua, com seus 6.962 metros acima do nível do mar, é o primeiro contato que se tem com a província de Mendoza. Situada no centro-oeste da Argentina, ao pé da Cordilheira dos Andes – o cinturão de montanhas mais alto das Américas –, a cidade de mesmo nome ocupa um extenso território, de cerca de 150 mil quilômetros quadrados. Plana e arborizada, Mendoza é pacata, apesar da população de um milhão de habitantes. As ruas são cortadas por canais que desviam o curso da água, proveniente do degelo andino. Esta mesma técnica, aprendida pelos colonizadores espanhóis com os índios, ajuda a abastecer os vinhedos da região. Do outro lado da montanha, encontra-se a vizinha Santiago do Chile.
O clima aqui é geralmente agradável, temperado e com escassez de umidade. Tudo indica, porém, que imprevistos climáticos acontecem não apenas em países tropicais; quatro dias de chuva intermitente acompanharam a visita de um grupo de dez jornalistas brasileiros, pouco afeitos a acreditar na informação de que, em Mendoza, chove apenas 15 dias por ano. A temperatura, que, em fins de abril, deveria ser de 20ºC, foi caindo gradativamente até estacionar em 4ºC. Come-se muito bem na região, como é comum em cidades onde a cultura do vinho predomina. Esta é a verdadeira terra da Malbec, a uva símbolo do país. A presença de solos propícios ao cultivo – com altas temperaturas durante os dias de verão e noites mais amenas – fez do lugar a mais importante região vitivinícola da América do Sul, responsável por cerca de 70% de todo o vinhedo argentino.
O motivo da visita foi conhecer um dos destaques da região: os vinhedos de Cheval de Andes e Terrazas de los Andes, operação sul-americana do grupo LVMH – o maior conglomerado de empresas de luxo do mundo –, proprietário de marcas de prestígio como Louis Vuitton, Moët & Chandon-Hennessy e os champanhes Veuve Cliquot e Dom Pérignon. Ela começa por uma recepção no vine loft de Cheval des Andes, um espaço dedicado à degustação deste que é considerado um dos melhores vinhos argentinos do momento. Nicolás Audebert, nosso primeiro anfitrião francês, explica que a empresa organiza estes encontros anuais com o intuito de promover não apenas a marca, mas o vinho argentino como um todo. Ao que parece, o Brasil se tornou um grande mercado consumidor. A propriedade de 40 hectares ao pé da cordilheira de neve eterna impressiona. Aqui, o savoir-faire francês encontrou eco no charme argentino. Com a chuva e o frio inesperados, uma partida de polo e outras atividades outdoor que estavam programadas foram canceladas. Sem alternativas para entreter o grupo pelo resto do dia, o almoço degustação transformou-se em consumo desenfreado, embalado pelo calor da lareira e por boa música francesa. Os generosos anfitriões permitiram algo inédito: experimentarmos todas as safras de Cheval des Andes desde o início de sua fabricação, em 1999.
No final da tarde, o retorno feliz para o cinco estrelas Diplomatic, localizado bem no centro da cidade. O ponto alto da viagem, entretanto, aconteceu nesta mesma noite, na casa-sede da Terrazas de los Andes – uma antiga bodega de arquitetura colonial do século 19, cercada por plátanos, álamos e touceiras de lavanda. Ali ocorreu a degustação vertical de oito rótulos reserva e afincado da marca, com destaque para os Malbec e Syrah, sob a influência de uma intensa cenografia ao som de violino e violoncelo. Em seguida, um jantar para convidados no interior da adega apresentou o restante dos vinhos, como o Chardonay e o Terrazas Torrontés, de sobremesa.O dia seguinte foi dedicado à visita aos vinhedos de Las Compuertas, em Vistalba. Apesar do frio, uma espécie de vinho quente foi improvisado em uma fogueira, onde foi possível aprender o motivo pelo qual a Argentina se destaca hoje na produção da uva Malbec. Originária da França, ela foi, junto a todas as outras espécies, dizimada pela praga filoxera, proveniente dos Estados Unidos, que atacou os vinhedos europeus em fins do século 19. Mais de 25 anos se passaram até que a produção europeia se recuperasse, mas, na Argentina, mudas trazidas antes do filoxera prosperaram e resistem à praga desde então.
Durante a tarde do último dia, a equipe de enólogos e agrônomos franceses responsável pelo acompanhamento de toda a produção nos levou para conhecer os bastidores do manuseio da uva e da confecção do vinho em todas as suas etapas, desde o início do processo. Mendoza é um destino turístico dos mais interessantes. Aos bravos que conseguirem sobreviver à chamada rota do vinho, há, além dos vinhedos, belos spas de águas termais e diversas opções de passeios na natureza, inclusive pela Cordilheira dos Andes. (MARCOS ZEITOUNE)
Fonte: Casa Vogue