domingo, 8 de setembro de 2013

Belo Comidaria, o mineiro cool de Belo Horizonte


Tudo o que o menu do novo restaurante Belo Comidaria, em Belo Horizonte, tem de despretensioso – serve desde picadinho, sanduíches e nhoque de angu até bolos e biscoitos –, o décor tem de estudado. Esse mineirinho transado, fincado no coração da cidade, em um dos raríssimos pontos cercados de verde, reflete o estilo eclético de um dos três sócios, o publicitário e blogueiro Rafael Mantesso. “Adoro velharias e não queria mesas e cadeiras iguais, como se fosse praça de alimentação de shopping”, diz. O briefing – reconstruir de cima a baixo o imóvel que é de Bernardo de Oliveira, outro sócio, e decorá-lo com peças antigas garimpadas uma a uma – foi seguido à risca pelos arquitetos locais Cristiano Sá Motta e Ricardo Gruner.



Um dos trunfos do Belo é a varanda com mesinhas e cadeiras descombinadas, de frente para a rua e brindada pela natureza. “Só temos um prédio atrás de nós e mais nada, por isso preferimos deixá-la descoberta. Perdemos os 30 lugares quando chove, mas não matamos a vista”, diz Mantesso. Os azulejos brancos que revestem metade da fachada (“dos mais comuns e baratos”) reaparecem nas paredes interiores. O piso de tábuas de pínus começa no primeiro salão, recobre a escadaria de ferro e prossegue no andar de baixo (o “quintal”), unificando o todo.




A maioria dos móveis foi comprada de um excêntrico colecionador particular que, excepcionalmente, aceitou abrir mão de algumas de suas antiguidades. “Os arquitetos enlouqueceram com essa conquista, o Cristiano até já foi dono de antiquário”, conta Mantesso. “Conseguimos umas peças de Sergio Rodrigues, por exemplo, a preço de banana.” Outros tesouros adquiridos do mesmo acervo incluem mesas com tampo de Formica verde-abacate ou de madeira com pés de ferro forjado e cadeiras que, na década de 1980, estavam no auditório da Cemig. Mixadas, as peças preenchem o salão de baixo, aberto para um jardim.Na iluminação, repete-se a salada de estilos. Refletores teatrais (saídos do Palácio das Artes) jogam fachos de luz no salão inferior, enquanto luminárias vermelhas de piso, pregadas perpendiculares à parede, fazem as vezes de arandelas. Acima de algumas mesas, pendem pencas de lâmpadas estilo oficina mecânica, protegidas por tela amarela. Vieram da loja da mulher de Mantesso, a Abatjour de Arte.



Nas paredes, chamam a atenção o gigantesco menu escrito à mão sobre tinta de lousa e a ilustração de uma rapariga batendo uma massa, pintada sobre os azulejos, ambos do punho do próprio Mantesso, que estudou artes plásticas. Têm um visual retrô que combina com o par de geladeiras antigas (uma amarela, outra preta) e as demais “velharias” cuidadosamente escolhidas, como o guarda-louça azul-bebê que servia, originalmente, para separar correspondências nos Correios. As cores primárias reaparecem nos mosaicos de ladrilho hidráulico, em três desenhos diferentes.



Se hoje o Belo vive cheio, não é só por causa do espaço amplo, aberto e acolhedor, mas também em virtude das caprichadas releituras de quitutes mineiros que saem da cozinha comandada por Henrique Gilberto, o terceiro sócio. Nada resume melhor o lugar que os pesados e imensos (mais de 1,80 m de altura!) M e G, de ferro surrado, que faziam parte do letreiro de uma faculdade décadas atrás. Hoje, dominando o ambiente ao pé da escada, anunciam, em alto e bom-tom,uma mineirice incrivelmente cool.

Fonte: Casa Vogue